Aplicação do Passe na Casa Espírita
O editorial de O Reformador, de 1992, esclarece que o Centro Espírita, entendido como unidade fundamental do Movimento Espírita, “para bem atender às suas finalidades, deve ser núcleo de estudo, de fraternidade, de oração e de trabalho, com base no Evangelho de Jesus, à luz da Doutrina Espírita”. Desviá-lo dessa diretriz é comprometer a causa a que se pretende servir.” (15) Sendo assim, a aplicação do passe deve guardar coerência com as orientações doutrinárias, fundamentadas na Codificação Kardequiana.
“O passe foi incluído nas práticas do Espiritismo como um auxiliar dos recursos terapêuticos ordinários. É, portanto, um meio e não a finalidade do Espiritismo. No entanto, muitas pessoas procuram o centro espírita em busca somente da cura ou melhora de seus males físicos, psicológicos e dos distúrbios ditos “espirituais”. Geralmente, as pessoas que assim procedem são nossos irmãos que desconhecem os fundamentos do Espiritismo. Muitos vêem no Espiritismo mais uma religião, criada por Kardec. Outros ligam-no somente à mediunidade, temendo sua prática, que envolveria o relacionamento com “almas do outro mundo”. Ainda outros associam-no a curas, e mesmo à fórmulas místicas para a solução de problemas financeiros, conjugais, etc. Há aqueles que, sem nada conhecer, tomam passes freqüentemente, por hábito, mesmo sem estarem necessitando. Isso tudo resulta do desconhecimento doutrinário, de interpretações pessoais, da disseminação de conceitos errôneos. É dever do centro espírita, por meio do seu corpo de trabalhadores, esclarecer os que o procuram acerca dos objetivos maiores do Espiritismo, que gravitam em torno da libertação da criatura das amarras da ignorância das leis divinas, alçando-a à perfeição. (7)
O trabalhador espírita que atua na transmissão do passe deve considerar a tarefa como uma oportunidade de servir ao próximo. Entende que, primeiramente, “toda competência e especialização no mundo, nos setores de serviço, constituem desenvolvimento da boa vontade. Bastam o sincero propósito de cooperação e a noção de responsabilidade para que sejamos iniciados, com êxito em qualquer trabalho novo.” (26) Em segundo lugar, conseguida “ a qualidade básica, o candidato ao serviço precisa considerar a necessidade de sua elevação urgente, para que as suas obras se elevem no mesmo ritmo (…). Antes de tudo, é necessário equilibrar o campo das emoções. Não é possível fornecer forças construtivas a alguém, ainda mesmo na condição de instrumento útil, se fazemos sistemático desperdício das irradiações vitais. Um sistema nervoso esgotado, oprimido, é um canal que não responde pelas interrupções havidas. A mágoa excessiva, a paixão desvairada, a inquietude obsidente, constituem barreiras que impedem a passagem das energias auxiliadoras. Por outro lado, é preciso examinar também as necessidades fisiológicas, a par dos requisitos de ordem psíquica. A fiscalização dos elementos destinados aos armazéns celulares é indispensável, por parte do próprio interessado em atender as tarefas do bem. O excesso de alimentação produz odores fétidos, através dos poros, bem como as saídas dos pulmões e do estômago, prejudicando as faculdades radiantes, porquanto provoca dejeções anormais e desarmonias de vulto no aparelho gastrintestinal, interessando a intimidade das células. O álcool e outras substâncias tóxicas operam distúrbios nos centros nervosos, modificando certas funções psíquicas e anulando os melhores esforços na transmissão de elementos regeneradores e salutares. (27)
É importante que os colaboradores, ligados a esse tipo de atividade, adquiram conhecimentos para saberem agir com acerto. “Decerto, o estudo da constituição humana lhes é naturalmente aconselhável, tanto quanto ao aluno de enfermagem, embora não sendo médico, se recomenda a aquisição de conhecimentos do corpo em si. (….) O investimento cultural ampliar-lhe-á os recursos psicológicos, facilitando-lhe a recepção de ordens e avisos dos instrutores que propiciem amparo, e o asseio mental lhe consolidará a influência, purificando-a além de dotar-lhe a presença com a indispensável autoridade moral, capaz de induzir o enfermo ao despertamento das próprias forças de reação.” (31)
O passista deve estar ciente que “o êxito do trabalho reclama experiência, horário, segurança e responsabilidade do servidor fiel aos compromissos assumidos.” (28)
Podemos considerar ainda como orientações gerais para a aplicação do passe na Casa espírita:
- Utilizar, a rigor, a imposição de mãos, evitando a gesticulação excessiva. A aplicação do passe deve ser feita de forma muito simples, sem ritual e cacoetes de qualquer natureza. Considerando que a palavra passe é movimento rítmico, cada “movimento impõe um outro de complementação e equilíbrio, entremeado de pausa para mudar a direção. Dispersão, pausa, assimilação ou doação, eis o passe em três etapas bem caracterizadas.” (8)
- Todos os passistas devem ser considerados médiuns. A capacidade de absorção de energias espirituais somada à de doação fluídica, varia de pessoa para pessoa, em função das condições individuais, próprias de cada pessoa, assim como do nível de sintonia mental que o passista mantém com os benfeitores espirituais.
- O melhor local para o passe é a Casa Espírita. “Somente em casos excepcionais devem ser ministrados passes fora do Centro Espírita, a fim de não favorecer o comodismo e a indisciplina, devendo a tarefa ser realizada por dois médiuns, no mínimo; é de bom senso aconselhar o passe à distância, no caso do enfermo não poder comparecer à Casa Espírita. (16)
- O “passe é a transmissão de uma força psíquica e espiritual, dispensando qualquer contato físico na sua aplicação.” (25)
- A transmissão fluídica não deve ocorrer estando o médium em transe. “O passe deve ser sempre dado em estado de lucidez e absoluta tranqüilidade, no qual o passista se encontre com saúde e com perfeito tirocínio, a fim de que possa atuar na condição de agente, não como paciente.” (17)
- É necessário fazer uma preparação espiritual antes da aplicação do passe – ainda que breve -, buscando, pela prece, a devida sintonia com os benfeitores espirituais.
- O passista não precisa receber passe depois que fez doação fluídica ao necessitado. O auxílio espiritual repõe, automaticamente, os gastos energéticos. Se o passista sentir que estão ocorrendo perdas de energia, após a aplicação do passe – caracterizadas, em geral, por um estado de fraqueza, dores ou mal-estar –, é aconselhável avaliar as causas geradoras, procurando corrigi-las.