Fluidoterapia Espírita

Fluidoterapia Espírita

Obreiros do Senhor*

Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperados. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!” Mas, ai daqueles que, por efeito das suas dissensões, houverem retardado a hora da colheita, pois a tempestade virá e eles serão levados no turbilhão! Clamarão: “Graça! graça!” O Senhor, porém, lhes dirá: “Como implorais graças, vós que não tivestes piedade dos vossos irmãos e que vos negastes a estender-lhes as mãos, que esmagastes o fraco, em vez de o amparardes? Como suplicais graças, vós que buscastes a vossa recompensa nos gozos da Terra e na satisfação do vosso orgulho? Já recebestes a vossa recompensa, tal qual a quisestes. Nada mais vos cabe pedir; as recompensas celestes são para os que não tenham buscado as recompensas da Terra.”

Deus procede, neste momento, ao censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente, a fim de que não usurpem o salário dos servidores animosos, pois aos que não recuarem diante de suas tarefas é que ele vai confiar os postos mais difíceis na grande obra da regeneração pelo Espiritismo. Cumprir-se-ão estas palavras: “Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no reino dos céus.” —  O Espírito de Verdade.

* KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espíritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 121 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Cap. XX, item 5, p. 315.

1. O PASSE E O CONCEITO DE CURA

O conceito de passe sempre esteve, por tradição,  relacionado ao de cura: Cura obtida por meio da transmissão de energias fluídicas (magnético-espirituais) à pessoa doente. Entretanto, os vocábulos saúde, doença e cura devem ser corretamente entendidos. A Organização Mundial da Saúde considera que  saúde não é, necessariamente, ausência de doença, mas o estado de  completo bem-estar físico, mental e social. Concluímos, desta forma, que poucas são as pessoas que têm saúde no nosso planeta. A Doutrina Espírita, por outro lado, ensina que toda doença tem origem no espírito porque a ação moral desequilibrada do indivíduo afeta o seu perispírito. Como o perispírito do encarnado está intimamente ligado ao seu corpo físico, o  desajuste vibratório de um afeta o outro, produzindo, em conseqüência, as doenças.

Para o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra passe significa, entre outros conceitos, “ato de passar as mãos repetidas vezes por diante ou por cima de pessoa que se pretende magnetizar ou curar pela força mediúnica.” (20) O Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo, de João Teixeira de Paula, conceitua passes como sendo “movimentos com as mãos, feitos pelos médiuns passistas, nos indivíduos com desequilíbrios psicossomáticos ou apenas desejosos de uma ação fluídica benéfica. (…) Os passes espíritas são uma imitação dos passes hipnomagnéticos, com a única diferença de contarem com a assistência, invocada e sabida, dos protetores espirituais.” (22) Fica evidente, nesses dois conceitos, que passe é uma transmissão fluídica  de natureza magnética,  aplicado com o auxílio das mãos e com a finalidade de curar ou aliviar desarmonias físicas e psíquicas.

É importante considerar, porém, que o  Espiritismo nos oferece uma visão  bem mais abrangente do assunto:

  • Passe é uma transmissão conjunta, ou mista, de fluidos magnéticos – provenientes do encarnado –  e de fluidos espirituais – oriundos dos benfeitores espirituais, não devendo ser considerada uma simples transmissão de energia animal (magnetização).
  • A aplicação do passe tem como finalidade sanar desarmonias físicas e psíquicas, substituindo os fluidos deletérios por fluidos benéficos; equilibrar o funcionamento de células e tecidos lesados; promover a harmonização do funcionamento de estruturas  neurológicas que garantem o estado de lucidez mental e intelectual do indivíduo.
  • O passe é, usualmente, transmitido pelas mãos, mas também pode ser feito pelo olhar, pelo sopro ou, à distância, por intermédio das irradiações mentais.
  • A transmissão e a recepção do passe guarda relação com o poder da vontade de quem doa as energias benéficas e de quem as recebe.
  • A cura verdadeira das doenças está relacionada ao processo de reajuste do Espírito, sendo o passe apenas um instrumento de auxílio.
  • Para evitar recidivas de doenças ou perturbações, é necessário que a pessoa defina e siga uma programação de melhoria moral e de esclarecimento espiritual.
  • Allan Kardec esclarece que a“cura se opera mediante a substituição de uma molécula  malsã por uma molécula sã. O poder curativo estará, pois, na razão direta da pureza da substância inoculada; mas, depende também da energia da vontade que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica provocará e tanto maior força de penetração dará ao fluido.”(5)

Percebemos, portanto, que a noção de passe, à luz do entendimento espírita, não está restrita ao conceito de cura. Os conceitos básicos que os  orientadores espirituais nos  ensinam sobre o passe são os seguintes:

  • O “fluido universal é o elemento primitivo do corpo carnal e do perispírito, os quais são simples transformações dele. Pela identidade da sua natureza, esse fluido, condensado no perispírito, pode fornecer princípios reparadores ao corpo (…).” (4)
  • “Assim como a transfusão de sangue representa uma renovação das forças físicas, o passe é uma transfusão de energias psíquicas, com a diferença de que os recursos orgânicos são retirados de um reservatório limitado, e os elementos psíquicos o são do reservatório ilimitado das forças espirituais.” (24)
  • O “passe é a transmissão de energias fisio-psíquicas, operação de boa vontade (…) (29)
  • “O passe não é unicamente transfusão de energias anímicas. É o equilibrante ideal da mente, apoio eficaz de todos os tratamentos.” (33)

A restauração do equilíbrio físico,  pelo passe, é conhecida desde a Antigüidade. Se fizermos uma pesquisa apenas na Bíblia, vamos encontrar inúmeros relatos de transmissão fluídica associada à cura. Os exemplos que se seguem, colhidos ao acaso, no Velho e Novo Testamentos, nos fornecem uma significativa amostragem sobre o assunto:

  • Cura da lepra (ou hanseníase) por água magnetizada:“Então Eliseu lhe mandou um mensageiro, dizendo: Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, e ficarás limpo. Naamã, porém, muito se indignou, e se foi, dizendo: Pensava eu que ele sairia a ter comigo, por-se-ia de pé, invocaria o nome do Senhor seu Deus, moveria a mão sobre o lugar da lepra, e restauraria o leproso.” (II Reis,5:10-11);
  • Lucidez mental obtida pela imposição de mãos: “Josué, filho de Num estava cheio do espírito de sabedoria, porquanto Moisés havia posto sobre ele suas mãos: assim os filhos de Israel lhe deram ouvidos, e fizeram como o Senhor ordenara a Moisés. (Deuteronômio, 34:9-12).
  • Cura de doença por imposição de mãos: “Ao descer da montanha, seguiam-no multidões numerosas, quando de repente um leproso se aproximou e se prostrou diante dele, dizendo: Senhor, se queres, tens poder para purificar-me.  E Jesus, estendendo a mão , tocou-lhe dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo de sua lepra” (Mateus, 8:1-3).
  • Cura de cegueira física e espiritual: “Ananias partiu. Entrou na casa, impôs as mãos sobre ele e, disse: Saulo, meu irmão, o Senhor me enviou, Jesus, o mesmo que te apareceu no caminho por onde vinhas. É para que recuperes a vista e fiques repleto do Espírito Santo” (Atos, IX:17).

Cura a distância: “Não estava longe da casa, quando um centurião mandou alguns amigos lhe dizerem: – Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres na minha casa;nem mesmo me achei digno de ir ao teu encontro. Dize, porém, uma  palavra, para que meu criado seja curado. Pois também estou sob uma autoridade, e tenho soldados sob às minhas ordens; e a um digo vai! E ele vai;  e a outro vem! E ele vem; e a meu servo faze isto! E ele faz. Ao ouvir tais palavras, Jesus ficou admirado e, voltando-se para a multidão que o seguia, disse: – Eu vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé. E, ao voltarem para casa, os enviados encontraram o servo em perfeita saúde” (Lucas, 7:6-10).

2. A APLICAÇÃO DO PASSE NA CASA ESPÍRITA

O editorial de O Reformador, de 1992, esclarece que o  Centro Espírita, entendido como unidade fundamental do Movimento Espírita, “para bem atender às suas finalidades, deve ser núcleo de estudo, de fraternidade, de oração e de trabalho, com base no Evangelho de Jesus, à luz da Doutrina Espírita”. Desviá-lo dessa diretriz é comprometer a causa a que se pretende servir.” (15) Sendo assim, a aplicação do passe deve guardar coerência com as orientações doutrinárias, fundamentadas na Codificação  Kardequiana.

“O passe foi incluído nas práticas do Espiritismo como um auxiliar dos recursos terapêuticos ordinários. É, portanto, um meio e não a finalidade do Espiritismo. No entanto, muitas pessoas procuram o centro espírita em busca somente da cura ou melhora de seus males físicos, psicológicos e dos distúrbios ditos “espirituais”. Geralmente, as pessoas que assim procedem são nossos irmãos que desconhecem os fundamentos do Espiritismo. Muitos vêem no Espiritismo mais uma religião, criada por Kardec. Outros ligam-no somente à mediunidade, temendo sua prática, que envolveria o relacionamento com “almas do outro mundo”. Ainda outros associam-no a curas, e mesmo à fórmulas místicas para a solução de problemas financeiros, conjugais, etc. Há aqueles que, sem nada conhecer, tomam passes freqüentemente, por hábito, mesmo sem estarem necessitando. Isso tudo resulta do desconhecimento doutrinário, de interpretações pessoais, da disseminação de conceitos errôneos. É dever do centro espírita, por meio do seu corpo de trabalhadores, esclarecer os que o procuram acerca dos objetivos maiores do Espiritismo, que gravitam em torno da libertação da criatura das amarras da ignorância das leis divinas, alçando-a à perfeição. (7)

O trabalhador espírita que atua na transmissão do passe deve considerar a tarefa como uma oportunidade de servir ao próximo. Entende que, primeiramente, “toda competência e especialização no mundo, nos setores de serviço, constituem desenvolvimento da boa vontade. Bastam o sincero propósito de cooperação e a noção de responsabilidade para que sejamos iniciados, com êxito em qualquer trabalho novo.” (26) Em segundo lugar, conseguida “ a qualidade básica, o candidato ao serviço precisa considerar a necessidade de sua elevação urgente, para que as suas obras se elevem no mesmo ritmo (…). Antes de tudo, é necessário equilibrar o campo das emoções. Não é possível fornecer forças construtivas a alguém, ainda mesmo na condição de instrumento útil, se fazemos sistemático desperdício das irradiações vitais. Um sistema nervoso esgotado, oprimido, é um canal que não responde pelas interrupções havidas. A mágoa excessiva, a paixão desvairada, a inquietude obsidente, constituem barreiras que impedem a passagem das energias auxiliadoras. Por outro lado, é preciso examinar também as necessidades fisiológicas, a par dos requisitos de ordem psíquica. A fiscalização dos elementos destinados aos armazéns celulares é indispensável, por parte do próprio interessado em atender as tarefas do bem. O excesso de alimentação produz odores fétidos, através dos poros, bem como as saídas dos pulmões e do estômago, prejudicando as faculdades radiantes, porquanto provoca dejeções anormais e desarmonias de vulto no aparelho gastrintestinal, interessando a intimidade das células. O álcool e outras substâncias tóxicas operam distúrbios nos centros nervosos, modificando certas funções psíquicas e anulando os melhores esforços na transmissão de elementos regeneradores e salutares. (27)

É importante que os colaboradores, ligados a esse tipo de atividade, adquiram conhecimentos para saberem agir com acerto. “Decerto, o estudo da constituição humana lhes é naturalmente aconselhável, tanto quanto ao aluno de enfermagem, embora não sendo médico, se recomenda a aquisição de conhecimentos do corpo em si. (….) O investimento cultural ampliar-lhe-á os recursos psicológicos, facilitando-lhe a recepção de ordens e avisos dos instrutores que propiciem amparo,  e o asseio mental lhe consolidará a influência, purificando-a além de dotar-lhe a presença com a indispensável autoridade moral, capaz de induzir o enfermo ao despertamento das próprias forças de reação.” (31)

O passista deve estar ciente que “o êxito do trabalho reclama experiência, horário, segurança e responsabilidade do servidor fiel aos compromissos assumidos.” (28)

Podemos considerar ainda como orientações gerais para a aplicação do passe na Casa espírita:

  • Utilizar, a rigor, a imposição de mãos, evitando a gesticulação excessiva. A aplicação do passe deve ser feita de forma muito simples, sem ritual e cacoetes de qualquer natureza. Considerando que a palavra passe é  movimento rítmico, cada “movimento impõe um outro de complementação e equilíbrio, entremeado de pausa para mudar a direção. Dispersão, pausa, assimilação ou doação, eis o passe em três etapas bem caracterizadas.” (8)
  • Todos os passistas devem ser considerados médiuns. A capacidade de absorção de energias espirituais somada à de doação fluídica, varia de pessoa para pessoa, em função das condições individuais, próprias de cada pessoa, assim como do nível de sintonia mental que o passista mantém com os benfeitores espirituais.
  • O melhor local para o passe é a Casa Espírita. “Somente em casos excepcionais devem ser ministrados passes fora do Centro Espírita, a fim de não favorecer o comodismo e a indisciplina, devendo a tarefa ser realizada por dois médiuns, no mínimo; é de bom senso aconselhar o passe à distância, no caso do enfermo não poder comparecer à Casa Espírita. (16)
  • O “passe é a transmissão de uma força psíquica e espiritual, dispensando qualquer contato físico na sua aplicação.” (25)
  • A transmissão fluídica não deve ocorrer estando o médium em transe. “O passe deve ser sempre dado em estado de lucidez e absoluta tranqüilidade, no qual o passista se encontre com saúde e com perfeito tirocínio, a fim de que possa atuar na condição de agente, não como paciente.” (17)
  • É necessário fazer uma preparação espiritual antes da aplicação do passe – ainda que breve -, buscando, pela prece,  a devida sintonia  com os benfeitores espirituais.
  • O passista não precisa receber passe depois que fez doação fluídica ao necessitado. O auxílio espiritual repõe, automaticamente, os gastos energéticos. Se o passista sentir que estão ocorrendo perdas  de energia, após a aplicação do passe – caracterizadas,  em geral, por um estado de  fraqueza, dores ou mal-estar –, é aconselhável avaliar as causas geradoras, procurando corrigi-las.

3. O PASSE E A PRECE. O PASSE A DISTÂNCIA

“Pela prece o homem atrai  o concurso dos bons Espíritos, que vêm sustentá-lo nas boas resoluções e inspirar bons pensamentos. Assim, adquire ele a força necessária para vencer as dificuldades e entrar no bom caminho, se deste se houver afastado.” (2) O colaborador, passista ou não, que deseja servir na seara espírita deve fazer da oração o seu alimento diário, porque, sintonizando com os Espíritos Superiores, afasta as influências espirituais negativas.

“O passe, como gênero de auxílio, invariavelmente aplicável sem qualquer contra-indicação, é sempre valioso no tratamento devido aos enfermos de toda classe, desde as criancinhas tenras aos pacientes em posição provecta na experiência física, reconhecendo-se, no entanto,  ser menos rico de resultados imediatos nos doentes adultos que se mostrem jungidos à inconsciência temporária, por desajustes complicados no cérebro. Esclarecemos, porém, que, em toda situação e em qualquer tempo, cabe ao médium passista buscar na prece o fio de ligação com os planos mais elevados da vida, porquanto, através da oração, contará com a presença sutil dos instrutores que atendem aos misteres da Providência Divina, a lhe utilizarem os recursos para a extensão incessante do Eterno Bem.” (32)

Entrando em contato com as esferas superiores, pela prece, “vamos progressivamente substituindo os fluidos que nos envolvem por outros de qualidade superior, característicos daquelas regiões. Esses fluidos são absorvidos, em primeira mão, pelo nosso perispírito, agindo sobre ele como fator harmonizante, e, através das conexões existentes entre o perispírito e o corpo físico, suas ações manifestam-se neste último.” (18)

“A prece tem outro papel importantíssimo, que é o de higienização do ambiente fluídico em que se encontra aquele que ora. No momento em que o precista [pessoa que ora] passa a receber fluidos de qualidade superior, passa também à condição de repulsor dos fluidos inferiores do ambiente. Esses fluidos vão sendo progressivamente substituídos pelos fluidos de qualidade superior, que estão sendo recebidos. A prece representa, portanto, um benefício para todos os que nos cercam. É como uma lâmpada que acende e afasta as trevas.” (19)

“O Espiritismo torna compreensível a ação da prece, explicando o modo de transmissão do pensamento, quer no caso em que o ser a quem oramos acuda ao nosso apelo, quer no em que apenas lhe chegue o nosso pensamento. Para apreendermos o que ocorre em tal circunstância, precisamos conceber mergulhados no fluido universal, que ocupa o espaço, todos os seres, encarnados e desencarnados, tal qual nos achamos, neste mundo, dentro da atmosfera. Esse fluido recebe da vontade uma impulsão; ele é o veículo do pensamento, como o ar o é do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, ao passo que as do fluido universal se estendem ao infinito. Dirigido, pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som. A energia da corrente guarda proporção com a do pensamento e da vontade. É assim que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida, qualquer que seja o lugar onde se encontrem; é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas inspirações, que relações se estabelecem a distância entre encarnados.” (1)

A prece à distância é a mesma coisa que irradiação mental. Etimologicamente irradiar significa lançar de si, emitir (raios, energias, fluidos, pensamentos, sentimentos). Radiar tem o significado de resplandecer, refulgir, lançar raios de luz, calor, aureolar, cercar de raios refulgentes; irradiar. Vibração é o ato de  vibrar, fazer oscilar, brandir, agitar, mover qualquer fluido ou energia na atmosfera. Podemos, pois, dizer que todos nós, Espíritos encarnados, temos capacidade para expandir os nossos fluidos vital e mental, sob a forma de energias eletromagnéticas, as quais se deslocam na atmosfera em direção a um alvo, sob a forma de irradiações. Os nossos pensamentos e sentimentos podem, dessa forma, ser irradiados a longas distâncias, em qualquer plano da vida. (13)

“Podemos mentalizar um doente ou portador de alguma dificuldade, envolvendo-o em vibrações de saúde, de equilíbrio, de paz ou de harmonia. Também podemos vibrar mentalmente pela paz mundial ou de um país, pelo sucesso de uma realização etc. Como a prece, a irradiação pode ser realizada a sós, nos momentos de recolhimento espiritual, ou em público, seja em reuniões específicas  para esta finalidade [reuniões de irradiação], seja um pouco antes do término de uma reunião mediúnica.” (13)

“Se a sensibilidade do médium capta influências negativas ou encontra qualquer tipo de obstáculo à irradiação, esta deve ser sempre conjugada com uma prece que, encontrando eco entre os Espíritos protetores, estes ocorrem para auxiliar. Normalmente a ligação, a distância,  entre o agente emissor e o necessitado é feita por um Espírito protetor que, espontaneamente, colabora nesta tarefa. (14)

No passe à distância ou irradiação mental, realizada a sós ou em público,  “o método a seguir é o da mentalização, estabelecendo a ligação como se o doente estivesse presente. Porém, é preciso saber dar direção ao pensamento emitido, em virtude das correntes fluídicas (energéticas) contrárias, que podem ser encontradas no caminho a percorrer. (…) No tratamento à distância não é preciso mentalizar qualquer gesto de passe. É suficiente pensar no doente, suplicando a Deus o socorro necessário para restabelecer a saúde. Nessa situação, a ideoplastia pode criar imagens [fluídicas] em que o doente é envolvido em fluidos salutares, renovadores, que lhe restauram o equilíbrio orgânico. É possível que a mente de quem irradia mentalize o doente feliz, são, recuperado do mal que o afligia.” (12),  (23)

4. O PASSE NOS GRUPOS MEDIÚNICOS

O passe é comumente utilizado nas reuniões mediúnicas. É uma forma de doar fluidos salutares ao Espírito sofredor comunicante, auxiliando-o na recuperação ou no equilíbrio do seu estado mental e emocional. Tem o poder de também auxiliar o médium durante a comunicação mediúnica, de forma que os fluidos deletérios sejam dissipados e não atinjam diretamente o equilíbrio somático do medianeiro. Naturalmente, não é uma conduta obrigatória, uma vez que o médium harmonizado com o plano espiritual superior encontra recursos necessários para não se deixar influenciar pelas ações, emoções ou sentimentos do sofredor, que lhe utiliza as faculdades psíquicas para manifestar-se. (12)

O passe pode, entretanto, ser considerado necessário durante a manifestação de entidades espirituais portadoras de necessidades especiais, como, por exemplo,  os obsessores, suicidas, alienados mentais ou as que revelam possuir graves lesões perispirituais. (21) O atendimento  a esses Espíritos, nas reuniões mediúnicas, indica  que a aplicação do passe “deve ser observada regularmente, de vez que o serviço de desobsessão pede energias de todos os presentes e os instrutores espirituais estão prontos a repor os dispêndios de força havidos, através dos instrumentos do auxílio magnético que se dispõem a servi-los, sem ruídos desnecessários, de modo a não quebrarem a paz e a respeitabilidade do recinto. Fora dos momentos normais [manifestações mediúnicas usuais], os médiuns passistas atenderão aos companheiros necessitados de auxílio tão-só nos casos de exceção, respeitando com austeridade disposições estabelecidas, de modo a não favorecerem caprichos e indisciplinas.” (30)

Não é recomendável a prática de aplicação de passes individuais em todos os participantes das reuniões mediúnicas, antes de iniciarem as atividades de intercâmbio espiritual. “Não há razão para que se tomem passes em todos os momentos, especialmente quando não são notadas necessidades específicas para o mister. Ao iniciar uma atividade espírita, o estudo, a oração, a concentração constituem recursos valiosos para vincular aqueles que se reúnem às fontes Superiores da Vida. Normalmente, precedendo o momento do intercâmbio, são realizadas leituras e feitos comentários espíritas, que predispõem todos à harmonia indispensável ao êxito do empreendimento mediúnico. Desse modo, torna-se perfeitamente dispensável a terapia do passe.” (9)

Os “médiuns em transe só deverão receber passe, quando se encontrem sob ação perturbadora de Entidades em desequilíbrio, cujas emanações psíquicas podem afetar-lhes os delicados equipamentos perispirituais. Notando-se que o médium apresenta estertores, asfixia, angústia acentuada durante o intercâmbio, como decorrência de intoxicações pelas emanações perniciosas do comunicante, é de bom alvitre que seja aplicada a terapia do passe, que alcançará também o desencarnado, diminuindo-lhe as manifestações enfermiças. (10)

“A tarefa de aplicar  passes nas reuniões mediúnicas sempre cabe ao encarregado da doutrinação. Poderá ele, no entanto, solicitar a contribuição de outros médiuns, especialmente passistas, que devem estar preparados para o cometimento, sempre vigilantes para auxiliar (11)

As recomendações indicadas para aplicação do passe na Casa Espírita (item 2)  servem, igualmente, para a sua aplicação nas reuniões mediúnicas.


5. MECANISMOS DO PASSE

“Pela sua união íntima com o corpo, o perispírito desempenha preponderante papel no organismo. Pela sua expansão, põe o Espírito encarnado em relação mais direta com os Espíritos livres e também com os Espíritos encarnados. O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos espirituais, como o dos desencarnados, e se transmite de Espírito a Espírito pelas mesmas vias e, conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos ambientes. Desde que estes se modificam pela projeção dos pensamentos do Espírito, seu invólucro perispirítico, que é parte constituinte do seu ser e que recebe de modo direto e permanente a impressão de seus pensamentos, há de, ainda mais, guardar a de suas qualidades boas ou más. Os fluidos viciados pelos eflúvios dos maus Espíritos podem depurar-se pelo afastamento destes, cujos perispíritos, porém, serão sempre os mesmos, enquanto o Espírito não se modificar por si próprio. Sendo o perispírito dos encarnados de natureza idêntica à dos fluidos espirituais, ele os assimila com facilidade, como uma esponja se embebe de um líquido. Esses fluidos exercem sobre o perispírito uma ação tanto mais direta, quanto, por sua expansão e sua irradiação, o perispírito com eles se confunde. Atuando esses fluidos sobre o perispírito, este, a seu turno, reage sobre o organismo material com que se acha em contato molecular. Se os eflúvios são de boa natureza, o corpo ressente uma impressão salutar; se são maus, a impressão é penosa. Se são permanentes e enérgicos, os eflúvios maus podem ocasionar desordens físicas; não é outra a causa de certas enfermidades. Os meios onde superabundam os maus Espíritos são, pois, impregnados de maus fluidos que o encarnado absorve pelos poros perispiríticos, como absorve pelos poros do corpo os miasmas pestilenciais com que se acha em contato molecular.” (3)

“Estabelecido o clima de confiança, qual acontece entre o doente e o médico preferido, cria-se a ligação sutil entre o necessitado e o socorrista e, por semelhante elo de forças, ainda imponderável no mundo, verte o auxílio da Esfera Superior, na medida dos créditos de um e outro. Ao toque da energia emanante do passe, com a supervisão dos benfeitores  desencarnados, o próprio enfermo, na pauta da confiança e do merecimento de que dá testemunho, emite ondas mentais características, assimilando os recursos vitais que recebe, retendo-os na própria constituição fisiopsicossomática, através das várias funções do sangue. O socorro, quase sempre hesitante a princípio, corporifica-se à medida que o doente lhe confere atenção, porque, centralizando as próprias radiações sobre as províncias celulares de que se serve, lhes regula os movimentos e lhes corrige a atividade, mantendo-lhes as manifestações dentro de normas desejáveis, e, estabelecida a recomposição, volve a harmonia orgânica possível, assegurando à mente o necessário governo do veículo em que se amolda. (31)

“São extremamente variados os efeitos da ação fluídica sobre os doentes, de acordo com as circunstâncias. Algumas vezes é lenta e reclama tratamento prolongado, como no magnetismo ordinário; doutras vezes é rápida, como uma corrente elétrica. Há pessoas dotadas de tal poder, que operam curas instantâneas nalguns doentes, por meio apenas da imposição das mãos, ou, até, exclusivamente por ato da vontade. Entre os dois pólos extremos dessa faculdade, há infinitos matizes. Todas as curas desse gênero são variedades do magnetismo e só diferem pela intensidade e pela rapidez da ação. O princípio é sempre o mesmo: o fluido, a desempenhar o papel de agente terapêutico e cujo efeito se acha subordinado à sua qualidade e a circunstâncias especiais.” (6)


6. RECOMENDAÇÕES AOS PASSISTAS

  • Não tocar o  beneficiado do passe.
  • Não prestar orientações mediúnicas durante a aplicação do passe.
  • Não transmitir o passe em estado de psicofonia  ou de transe mediúnico.
  • Evitar qualquer tipo de exibicionismo, tais como: gesticulação excessiva, ruídos, respiração ofegante, bocejos e cacoetes diversos.
  • Manter sintonia com os benfeitores espirituais para repor o gasto energético, evitando o recebimento de passe após a doação fluídica realizada em benefício de outrem.
  • Manter-se num clima de vibrações elevadas por meio da prece, estudo e esforço de melhoria moral.
  • Cuidar da nutrição  e da saúde de forma satisfatória.
  • Participar das reuniões de estudo ou de esclarecimento doutrinário que, em geral, antecedem o trabalho de passe.
  • Não aplicar passe  se:  faz uso de substâncias tóxicas viciantes, de qualquer natureza (álcool, fumo, psicotrópicos etc.); se encontra em estado de desequilíbrio emocional ou mental; está organicamente debilitado por doença, idade e tratamento médico.
  • Seguir as orientações da Doutrina Espírita para a aplicação do passe.

BIBLIOGRAFIA

1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 120.ed. Rio de Janeiro:FEB, 2003. Cap. XXVII, item 10, p. 373-374.
2. ___. Item 11, p. 374.
3. ___. A Gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 42.ed. Rio de Janeiro:FEB, 2003. Cap. XIV, item 18, p. 285-286.
4. ___. Item 31, p. 294-295.
5. ___. p. 295.
6. ___. Item 32, p. 295.
7. CHIBENI, Clarice. http://www.espirito.org.br/portal/artigos/geeu/estudo-passe.html
8. EQUIPE DO PROJETO MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA. Terapia pelos passes. Salvador ]BA]: Livraria Espírita Alvorada Editora, 1996. Cap. 7, p. 76.
9. ___. p. 103-104.
10. ___. p. 104-105.
11. ___. p. 106.
12. FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. Apostila do Curso Estudo e Educação da Mediunidade. 2.ed. Brasília: FEB, 2001. Programa I. Módulo 2, 1.ª parte, roteiro 3, cont. 3, p. 88.
13. ___. Módulo 2, 2.ª parte, anexo, p. 120.
14. ___. p. 122.
15. ___. O Reformador. Editorial. Rio de Janeiro: FEB, 1992.
16. FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO RIO GRANDE DO SUL. Fluidoterapia. s/ed.s/data. Cap. 3, p.37.
17. FRANCO, Divaldo Pereira e TEIXEIRA, José Raul. Diretrizes de Segurança. Rio de Janeiro: Fráter Livros Espíritas. Cap. VII, questão 69.
18. GURGEL, Luiz Carlos M. O Passe Espírita. 3.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996. Cap. VII, p. 109.
19. ___. p. 111.
20. HOUAISS, Antônio. et al. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Objetiva. 2001, p. 2.144 (passe).
21. NOBRE, Marlene R.S. A Obsessão e suas Máscaras: um estudo da obra de André Luiz. São Paulo: Editora Jornalista Fé, 1997. Cap. 17, p. 142.
22. PAULA, João Texeira. Dicionário Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo. Volume III. São Paulo:Banco Cultural Brasileiro Editora, 1970, p. 57.
23. TOLEDO, Wenefledo. Passes e Curas espirituais. São Paulo: O Pensamento. Lição oitava, p. 123-124.
24. XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 11. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1985, questão 98, p.67-68.
25. ___. Questão 99, p. 68.
26. ___. Os Mensageiros. Pelo Espírito André Luiz. 1.ª ed. Especial. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Cap. 44, p. 271.
27. ___. Os Missionários da Luz. Pelo Espírito André Luiz. 1.ª ed. Especial. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Cap. 19, p. 350.
28. ___. Nos Domínios da Mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 1.ª ed. Especial. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Cap. 17, p. 163.
29. ___. Segue-me. Pelo Espírito Emmanuel. 2. ed. Matão [SP]: Casa Editora O Clarim, p. 99.
30. XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Desobsessão. Pelo Espírito André Luiz. 20. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000. Cap. 52, p. 183-184.
31. ___. Mecanismos da Mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1973. Cap. XXII, p. 160-161.
32. ___. p. 161-162.
33. ___. Opinião Espírita. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 4. ed. Uberaba[MG]: Edição CEC, 1973. Cap. 55, p.180.